quinta-feira, 24 de junho de 2010

Família na contemporaneidade

Família sempre foi o grande desejo de todos; o principal interesse que todos queriam alcançar plenamente. Isso porque não se podia cogitar em uma pessoa sem família; podia ser até um pecado, quem sabe. Afinal, o que estas, se existissem, seriam? Família era sinônimo de pai – o patriarca –, de mãe – a matriarca – e dos filhos. O pai era quem comandava a família, ou seja, aquele que ditava as regras a serem seguidas por todos os integrantes do grupo familiar; a mãe era quem mantinha a ordem do lar e coordenava os deveres domésticos, não tendo qualquer poder de discussão perante o patriarca, apenas aceitando os dizeres deste; os filhos ouviam os pais – estes diziam proteger e saber do melhor para seu futuro. Num passado bem recente era esse o quadro que se via – e ainda pode se vê entre os conservadores, embora de uma forma mais remota – da estrutura familiar. Mas, hoje, inegavelmente, tem havido mudanças na família e a própria visão que se tinha do contexto familiar não é mais o mesmo. A realidade da família mudou junto com a evolução do mundo.

O conceito de família adquiriu novas perspectivas acompanhando o novo ritmo do mundo. A modernização trouxe diversidades e estas não deixaram de ingressar também na família. Cita-se, em primeiro, a independência da mulher, que evoluiu socialmente, não sendo mais aquela “dona do lar”, agora ela é a “dona da multinacional”. A mulher que se via confinada na cozinha passou a ser vista dentro de uma sala coordenando as atividades de seus funcionários. Cozinhar para o lar? Nunca mais; só mesmo por prazer. A mulher de hoje quer independência, quer crescer na profissão e pronto. Claro, sem esquecer-se da família, mas também não a coloca em posição primordial. Busca conciliar profissão e família para obter êxito pessoal. Os seus filhos, às vezes, sofrem com essa realidade, mas não podem lutar contra, afinal, ninguém está livre dela. Eles próprios já ganharam mais liberdade, seja pela “falta de tanto zelo da mãe”, seja pelo caminho de ser livre que a contemporaneidade prega para todos. Os filhos querem ser livres.

Mulheres, agora independentes, não buscam incansavelmente pelo marido. E nem este pela mulher. Se for para serem felizes, a felicidade também se faz na solidão. O objetivo não é estar acompanhado, mas estar de bem com a vida. Nesse querer viver bem aparecem as novas diretrizes de felicidade que nem sempre incluem no projeto a de formar uma família. Ser feliz agora é o desejo que todos querem alcançar em primeiro lugar.

E quando a família não se faz do modo convencional – homem e mulher com filhos? Não existem maiores problemas. Hoje também são aceitas – voluntariamente ou não - famílias constituídas por dois homens com seus filhos, duas mulheres com seus filhos ou quem sabe apenas um deles com filhos. O que importa como já enunciado é encontrar a felicidade. Homossexualismo ganhou mais visibilidade, pois aquele medo que se tinha de se revelar para o mundo ganhou uma nova postura baseada na liberdade de ser e de fazer o que quiser. A sociedade, por vezes, claro, mantém certo conservadorismo em algumas questões homossexuais - a exemplo do fato de ainda resistir ou ver com repulsa quando casais homoafetivos se manifestam afetivamente -, mas não pode fazer muito, não pode lutar contra fatos da vida. Que o amor é livre, na teoria, todos sabem, mas na prática sempre surge uma controvérsia que seja. Fato.

Casais infelizes? Vem agora o revolucionário divórcio. As pessoas não querem mais viver na depressão de ter que conviver com alguém que não gosta mais ou que não tem mais o mesmo pensamento que o seu. Os seres humanos são diferentes, não existem iguais e as pessoas se casam – ou se juntam no novo linguajar - sabendo disso, entretanto basta que um componente do casal passe a ser um pouco mais divergente que a crise entre eles surge acompanhada por brigas domésticas e cheia da manifestação de personalidade. A terapia de casal ajuda, porém não resolve, então, que tal uma separação? Sim, essa é uma solução eficaz e bastante usual. A família pode então acabar, mas o que vale mesmo é a felicidade do casal, seja separado ou não. Família também se constrói sozinho. Os filhos terminam até agradecendo diante do caos familiar que havia. As mulheres e a sociedade na qual se incluem não lidam mais com a separação como o fim da vida. As mulheres passaram a não ganhar mais aquele título de “separadas” e a não mais sofrerem represálias sociais com a dita separação.

Nesse novo contexto familiar, há também a viuvez que não é mais vista como antigamente e isso se deve a evolução da sociedade. Mulheres que antes amargavam com a morte do seu marido, agora seguem em frente e buscam encontrar – quando querem - novos parceiros da vida, se não encontram ficam sozinhas mesmo. A mulher contemporânea tem consciência de que não necessita mais do homem para viver. Antes a mulher dependia totalmente do homem. Hoje não mais. A independência econômica surge como um dos fatores primordiais dessa não necessidade de parceiro. A visão da importância do casamento não é mais a mesma.

Muito tem se visto também de mulheres que criam sozinhas os filhos e mesmo de pais que criam sozinhos seus filhos. Esses desacompanhados oferecem aos filhos todo amor e educação, lutam para que tenham um futuro esplêndido e não cogitam na necessidade do parceiro simplesmente porque não é preciso.

Com relação ao Direito brasileiro, o novo Código Civil vem se adaptando as novas estruturas familiares, mas ainda falta muito para chegar a um nível que atenda a todos igualmente, dando, por exemplo, as mesmas oportunidades de um casal convencional para casais homoafetivos no que refere às adoções e a possibilidade de casamento pleno.

Não há que se falar, portanto, em falência familiar. O que se vê é um novo significado do que seja família que aparece como conseqüência da evolução do mundo juntamente com a diversidade de pensamento. A família tem acompanhado as atuais tendências de liberdade e de felicidade que tem se construído de todo e qualquer modo. Família não deixou de ser considerada uma base de toda pessoa; um possível suporte para equilíbrio, mas mudou de configuração. A estrutura do pai acompanhado da mãe e dos filhos deixou de ser o modelo de como deve ser a família. Esta agora não tem um pré-conceito certo e determinado. A família contemporânea é outra; é diferente.

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